domingo, 22 de abril de 2012

FLAVIO GOMES

Local: Patos de Minas - MG, Brasil
Nem me lembro desde quando acompanho o jornalista Flávio Gomes.
Seus comentários são sempre bem humorados e o cara conhece muito de F1.
Este de hoje sobre a corrida no Bahrein, que reproduzo abaixo, foi sensacional!
Se você não conhece o cara, clique aqui.


SÃO PAULO (ficou bom) – Quando acaba uma corrida eu vou rabiscando no papel as efemérides e estatísticas mais notáveis, aquelas que todo esporte tem, especialmente os americanos (cito como exemplo os recentes recordes verificados n’América, como o de sequência de passos iniciada com o pé esquerdo até a cesta do lado norte do ginásio, na NBA, o de jardas conquistadas pela direita em dias ímpares de meses pares em anos bissextos por equipes de capacetes cor-de-laranja, na NFL, o de rebatidas em diagonal em noites de quarto minguante efetuadas por jogadores que têm R no nome, na MLB, e o de ultrapassagens concluídas no terço final de voltas de numeral repetido cuja soma é 12 em ovais que não vendem hot-dog às segundas, na Nascar), para descobrir se o GP teve alguma coisa de histórica ou não.
O do Bahrein teve. Foi a primeira vez na história da humanidade que um GP teve 71 pit stops quando disputado num dia em que a soma dos algarismos é igual ao número que representa o mês (sendo que 7 + 1 = 8, assim como 2 + 2 + 4, de 22/4, também dá 8). Foi também a primeira vez na história que se repetiu a diferença entre as duas melhores voltas da corrida e entre a quinta e a sexta, sendo essa diferença, em milésimos, uma contagem regressiva mínima. Para quem não entendeu nada, 0s321 entre a melhor volta da prova, 1min36s379 (Vettel), e a segunda mais rápida, 1min36s700 (Kobayashi); e os mesmos 0s321 entre a quinta melhor, 1min37s116 (Raikkonen), e a sexta, 1min37s437 (Webber).
A curiosidade mais incrível, porém, e pela primeira vez na história do mundo isso aconteceu, foi a combinação dos números dos cinco primeiros colocados. Vejam que coisa inacreditável: 1 (Vettel), 9 (Raikkonen), 10 (Grosjean), 2 (Webber), 8 (Rosberg). Agora reparem: 1 + 9 = 10 = 2 + 8. Jamais tal combinação havia ocorrido em competição automobilística nenhuma em toda a trajetória humana no planeta com dois campeões mundiais entre os cinco primeiros. Com dois campeões e um filho de campeão, então, nunca na história do universo.
Como se vê, foi uma prova cheia de marcos históricos, essa barenita. E a Red Bull voltou. Tiãozinho fez a pole e, como nos velhos tempos do ano passado, controlou a corrida como quis. O que nos leva a mais um recorde. Nunca antes na história deste esporte um piloto havia atingido a marca de 22 vitórias num dia 22. Vettel conseguiu. E tem mais: assumiu a liderança do campeonato com 53 pontos (5 + 3 = 8) justo num dia 22/4 (2 + 2 + 4 = 8). Não é espantoso?
O fato é que depois de quatro etapas, o Mundial de 2012 teve quatro vencedores de equipes diferentes, o que mostra que o equilíbrio é real. Button (McLaren), Alonso (Ferrari), Rosberg (Mercedes) e Vettel (Red Bull). Isso aconteceu pela última vez em 1983: Piquet (Brabham), Watson (McLaren), Prost (Renault) e Tambay (Ferrari). Na quinta, naquele ano, mais um piloto de equipe diferente: Rosberg (Williams). Pode ser que se repita em Barcelona. Com a Lotus, que foi a grande coisa de Sakhir, com Kimi saindo de 11° para segundo e Grosjean fechando o pódio em terceiro. A Lotus não colocava dois no pódio, ou pelo menos um time com o nome Lotus, desde o GP da Espanha de 1979 (Reutemann em segundo e Andretti em terceiro). E o último pódio de uma equipe com esse nome tinha sido de Piquet, na Austrália em 1988.
Estou falando de “nome Lotus”, porque a equipe preta e dourada de hoje é muito mais Renault e Benetton do que Lotus propriamente dita. Daquela velha Lotus de Colin Chapman, leva mesmo apenas o nome — e não se sabe por quanto tempo, porque a Lotus que a patrocina, a que faz carros e pertence à Proton da Malásia, não seguirá patrocinando porra nenhuma na F-1, pelo que entendi.
Bem, não vou me meter nessa coisa dos nomes. Sigamos com nossas estatísticas que sempre podem iluminar as análises e comentários. Notaram o pódio na China? Três motores Mercedes. Uma semana depois, três Renault. Notaram que o Mundial já teve quatro líderes diferentes? Pois é. Um pódio com três Mercedes seguido de outro com três Renault no espaço de uma semana jamais tinha acontecido antes tendo sempre um alemão entre os laureados. Vejam só. E os quatro líderes diferentes em quatro etapas? Nunca na história deste…
Vai ser um campeonato, como disseram os três do pódio do Bahrein, decidido nos detalhes e nas pequenas coisas. O Alonso, com aquela porcaria de carro, foi sétimo hoje e está apenas dez pontos atrás de Vettel na classificação. Graças aos detalhes da incomum prova de Sepang. Webber, que chegou quatro vezes em quarto, está só cinco atrás do companheirinho. Hamilton, vice-líder, tem quatro de desvantagem. Regularidade é a chave para 2012. Hamilton, Webber e Alonso pontuaram em todas as corridas. E aquele que é o mais regular, normalmente, deixou de pontuar duas vezes. Button, que quebrou hoje. Se estivesse tendo um ano normal, estaria na liderança. Mas pequenas coisas o atrapalharam, como um pit stop ruim em Xangai e um pneu furado hoje.
A McLaren é quem sai no maior prejuízo dessa bateria de quatro corridas no cu do mundo. Vem aí a temporada europeia, com oito das nove próximas etapas no Velho e Bom Continente (a exceção é o GP do Canadá, onde vivia Luíza), e os mclarianos, superiores em quase tudo desde o início, esperavam voltar para casa com alguma folga nos dois campeonatos. Não lideram nenhum. O time não aproveitou sua força, por uma ou outra razão, e vai ter de remar. Hoje, por exemplo, os caras cagaram nos três pit stops de Líuis. Que terminou em oitavo, depois de largar em segundo.
A corrida, para não dizer que dela não falei, foi ótima. Os desempenhos de Kimi e Grosjean foram dignos de aplausos. No fim, achei que Raikkonen poderia até ter arriscado um último stint com os pneus macios economizados no sábado, mas acho que aquela volta em que perdeu dez posições na China veio à mente dos genílicos e eles optaram pela segurança de um segundo lugar garantido.
Gostei muito de Di Resta, para quem a tática de duas paradas (o resto parou três) funcionou e rendeu um sexto lugar excelente. Aqui, merece uma menção o tanto que a Force India apareceu na TV: on-board, pitwall, rádio, ultrapassando, sendo ultrapassada, entrando no box, saindo do box… Tudo porque a FOM retaliou a equipe no sábado por ela ter se retirado dos treinos de sexta com medo de ser atacada por beduínos, camelos, aiatolás, bombardeios de quibes e esfihas envenenadas. Sumiu da TV. Mas na corrida, Bernie, que adora fazer suas gracinhas, por remorso ou escárnio tacou Force India na telinha.
Gostei de Massa, que fez seus primeiros pontos depois de um ótimo início e uma segunda metade de prova discreta, mas sempre perto de Alonso. Ele precisa melhorar, e o primeiro passo foi dado. Modesto, mas um passo. Não gostei de Ricciardo, que poderia ter transformado seu sexto lugar no grid em algo útil e acabou chegando atrás de Vergne. E não gostei de Bruno Senna, que largou bem (como Felipe e Alonso), mas acabou despencando até abandonar no final.
Mas do que gostei mesmo, de verdade, foi do Vettel metendo uns chifrinhos no Raikkonen no pódio.


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